Histórico


O Circo Social Baixada nasceu em 2002 fruto de uma parceria entre a Fondation Terre des hommes (Tdh) e a Prefeitura de Queimados. Seu surgimento se deu a partir dos resultados de uma pesquisa desenvolvida em 2001 pela Rede Rio Criança[1] que constatou que 49% das crianças e adolescentes em situação de rua (CASR) no município do Rio de Janeiro vinham da Baixada Fluminense[2].

Alarmados com a situação, Tdh decidiu realizar um pesquisa situacional na Baixada Fluminense com o intuito de diagnosticar o município que mais necessitaria de uma organização que tivesse suas ações voltadas para crianças e adolescentes em situação de rua e vulnerabilidade social. Feito isto, Queimados foi o muncípio que mais apontou fragilidades, dentre elas: uma recente emancipação (1990); população de aproximadamente 121.993 habitantes, onde 42% tem a faixa etária entre 0 e 19 anos; segundo pior Índice de Desenvolvimento Humano da Baixada Fluminense; pior índice de Desenvolvimento Infantil, onde ocupava a 82° posição, em um total de 91 municípios, e ausência de políticas públicas voltadas para a área da infância e adolescência.

Com o município escolhido iniciou-se um diagnóstico local com a elaboração de um planejamento estratégico participativo. A linguagem do Circo Social foi escolhida pois seus pressupostos conceituais e metodológicos visam experimentar, sistematizar e consolidar práticas educativas e de mobilização sociocultural, que sejam capazes de influir em políticas públicas de garantia de direitos, com foco principal no desenvolvimento humano, em especial de crianças e jovens de espaços e segmentos sociais vulneráveis economicamente. Esta metodologia de intervenção dialoga diretamente com a magia e a rigorosidade da arte circense como ferramenta pedagógica para a construção de cidadania.

Sendo assim, em 2002, na Vila Camorim, em um terreno[3] anteriormente utilizado pela comunidade como “lixão”, foi feita a estruturação física e material das lonas que hoje abrigam o Pólo de Atividades. Desta forma, no mesmo ano, durante a 1° Jornada da Criança e do Adolescente o Circo Social Baixada foi apresentado com o objetivo de desenvolver uma ação voltada para a integração familiar e comunitária de crianças e adolescentes em situação de rua, a partir do desenvolvimento de suas competências e habilidades, realizando um trabalho junto à família no sentido de favorecer a permanência e/ou a reintegração de seus filhos em seus lares e a formação de uma rede interinstitucional de modo a fomentar ações complementares e formação continuada dos profissionais.

1.1   Maturidade e Credibilidade

Em 2005, a partir do fortalecimento das ações do projeto, e da permanência do apoio de Tdh o Circo Social Baixada entrou em sua segunda fase, onde pôde contar com apoio da Prefeitura para a execução do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) e da Fondación La Caixa, da Espanha. E, desde agosto do mesmo ano, o Circo Social Baixada tornou-se parte da Associação Curumins, de Fortaleza, entidade esta detentora do título de utilidade pública nacional e também apoiada pela Fondation Terre des hommes.

No ano de 2006, durante a IV Jornada da Criança e do Adolescente de Queimados focando na perspectiva de desenvolvimento do trabalho em rede, o projeto fomentou a “regestação” da Rede Criança Baixada (RCB)[4], onde hoje cumpre o papel de um dos articuladores externos. Atualmente cerca de 30 instituições de 11 municípios da Baixada Fluminense compõem a RCB.

Em 2007, visando o fortalecimento comunitário a fim de reduzir os fatores de riscos para as crianças, adolescentes e famílias, bem como desenvolver o seu bem-estar, nas suas comunidades de origem, a organização iniciou a ação de intervenção comunitária “Comunidade Ativa”. Nesta perspectiva, o Circo Social Baixada assumiu um papel de catalisador dos processos, acreditando nas capacidades da comunidade de analisar sua situação, definir os problemas e encontrar soluções de maneira coletiva.  A primeira comunidade onde a organização realizou a intervenção foi a Comunidade Morro Azul, comunidade de grande procedência de crianças e adolescentes em situação de rua/risco social. Em 2008 a “Comunidade Ativa” atingiu a Comunidade Vila Camorim. Em 2009 o trabalho foi iniciado na Comunidade São Francisco.

Como forma de potencializar as ações junto aos adolescentes e jovens atendidos pelo projeto, também em 2007, foi desenvolvido o curso “Crescendo com os Jovens Educadores”. Durante nove meses os adolescentes passaram por formações teóricas e oficinas artísticas através da parceria de academias e escolas[5]. Ao final, todos receberam o certificado de Jovens Educadores. Em 2008, quatro desses beneficiados foram contratados para exercer a função de Jovens Aprendizes, auxiliando os arte-educadores nas atividades artísticas de circo; uma das jovens foi contrata para a função de Auxiliar de Arte Educação; e uma exerce a função de Educadora Social. Em outubro de 2010 uma nova turma com nove jovens foi formada pelo curso. Em 2012, dois dos jovens formados na primeira turma foram contratados como Arte Educadores e até hoje ministram oficinas de arte circense e dança na organização. Já em 2014, mais três adolescentes foram contratados como Jovens Aprendizes. Ainda neste ano uma nova turma para o curso “Crescendo com os Jovens Educadores” será formada.
Objetivando a complementaridade de serviços o Circo Social Baixada tem assentos no Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA) ), onde atuou como presidente no triênio 2010/2012, e no Conselho Municipal de Assistência Social (CMAS). Em 2008, como resultado de um longo processo de trabalhos de sensibilização e mobilização em prol dos direitos da criança e do adolescente na Baixada Fluminense, o projeto conquistou um assento no Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CEDCA).

O Circo Social Baixada caminha lado a lado com as questões locais, regionais e, por vezes, internacionais, da infância e da adolescência, trazendo aos beneficiários constantes intercâmbios, através de visitas, seminários, passeios e até mesmo viagens. Como fruto deste processo pode-se citar a participação das crianças e adolescentes, em 2008, no lançamento da publicação “Vozes: Crianças e Adolescentes no monitoramento da Convenção Internacional dos Direitos da Criança”[6]. O resultado foi tão positivo que em 2009 a publicação teve sua reedição com acréscimo das falas crianças sobre o que seria “um lugar seguro” para elas dentro da perspectiva da Política de Proteção da Criança no espaço institucional.

Também em 2008 uma das Jovens Aprendizes foi enviada à Brasília com a finalidade de participar da preparação de adolescentes para ao III Congresso Mundial de Enfrentamento da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Em 2009, a mesma jovem foi convidada pelo Conselho Estadual de Direitos da Criança e do Adolescente (CEDCA) do estado do Rio de Janeiro a estar na VIII Conferência Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente como representante da delegação Rio de Janeiro.

O amadurecimento e a credibilidade do Circo Social Baixada conquitados nesses doze anos de atuação são medidos a partir dos certificados e prêmios recebidos pela instituição:
ü  Em 2009, o Fórum Cultural da Baixada Fluminense, contemplou à organização com o troféu de Personalidade de Destaque da Baixada Fluminense na categoria Cidadania;
ü  No mesmo ano, o Circo Social Baixada, através do projeto “Nem só de pão e circo” recebeu o certificado de Semifinalista do Prêmio Iatú Unicef;
ü  Em 2010 a organização recebeu da Secretaria Estadual de Cultura, na categoria circo, o Prêmio de Cultura do Estado do Rio de Janeiro[7]. A premiação demonstrou que a sociedade também tem os olhos voltados para a atuação do Circo Social, em especial ao trabalho voltado à garantia de direitos de crianças e adolescentes;
ü  O Conselho Estadual de Direitos da Criança e do Adolescente (CEDCA) do estado do Rio de Janeiro, no cumprimento de suas finalidades institucionais de formular políticas públicas e zelar pela respeitabilidade dos direitos da criança e do adolescente em território fluminense, concedeu ao Circo Social Baixada Moção de Agradecimentos pela contribuição na realização da VII Conferência Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente do estado do Rio de Janeiro, em 2010;
ü  Em 2011, o Circo Social Baixada recebeu do Instituto Cultural Cidade Viva, apoiada pelo RIOSOLIDARIO e SEBRAE/RJ, com o patrocínio da Companhia Distribuidora de Gás do Rio de Janeiro e da Secretaria de Estado de Cultura, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura o Prêmio Rio Sociocultural 2010. A iniciativa tinha por objetivo reconhecer às ações socioculturais do Estado do Rio de Janeiro com a certeza de contribuir para consolidar a identidade do povo fluminense ;
ü  Na mesma ocasião em que recebeu o Prêmio Rio Sociocultural 2010, o Circo Social Baixada recebeu o Prêmio Finalista Rio Sociocultural e o Prêmio Empreendedor Cultural 2010, oferecido diretamente pelo SEBRAE/RJ a cinco pontos de cultura de destaque;
ü  Ainda em 2011, na comemoração de 10 anos do evento Encontrarte, o Circo Social Baixada recebeu o troféu como Personalidade Regional na categoria Instituição;
ü  No mesmo ano, o Fórum Cultural da Baixada Fluminense, na ocasião do 10º Prêmio da Baixada Fluminense, contemplou à organização pela segunda vez com o troféu de Personalidade de Destaque da Baixada Fluminense na categoria Cidadania;

Em 2012 o Circo Social Baixada conquistou enfim sua personalidade jurídica local, passando a assumir a identidade de Associação Circo Social Baixada.

No ano de 2013, a Petrobrás, através do setor Desenvolvimento e Cidadania, contemplou o projeto “Um trampolim para a inclusão” - escrito pela organização para a retomada totalitária de suas atividades. A execução deste projeto teve seu início em Janeiro de 2014. O tempo previsto para a realização das atividades planejadas pelo mesmo são de dois anos.   



[1] Articulação de 15 entidades não governamentais do Rio de Janeiro que trabalham com crianças e adolescentes em situação de rua, este projeto foi implanta e apoiado por Tdh.
[2] Região composta por 13 municípios (Belford Roxo, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, Guapimirim, Itaguaí, Japeri, Magé, Mesquita, Nilópolis, Paracambi, São João de Meriti, Queimados e Seropédica) totalizando aproximadamente 4 milhões de habitantes.
[3] Espaço  de 4.800 m2 cedido por termo de comodato ela Prefeitura de Queimados.
[4] Rede criada em 2001 mas com as atividades paralizadas até o retorno em 2006. A RCB tem por objetivo provocar diferentes instituições/organizações da sociedade civil e governamentais da Baixada Fluminense para o desenvolvimento de ações conjuntas de formação, mobilização social e advocacy (incidência política), bem como de complementaridade de serviços.
[5] Intrépida Trupe, Circo Voador, Escola Nacional de Circo, Academia de Dança Alegro e Fundição Progresso.
[6] “Vozes: Crianças e Adolescentes no monitoramento da Convenção Internacional dos Direitos da Criança”  é um relatório alternativo da sociedade civil desenvolvido pela Anced (Associação Nacional dos Centros de Defesa da Criança e do Adolescente) sobre a implementação dos direitos da criança e do adolescente no Brasil, este relatório foi encaminhado para a ONU.
[7] O escolha dos ganhadores – divididos em 15 categorias – foi através da indicação feita por especialistas de diversas áreas que apontaram os destaques do ano de 2009. Vide vídeo http://www.youtube.com/watch?v=DUCfaRq8SzM .